Neurocientistas descobrem como a corrida desenvolve o cérebro.

Se já não bastasse todos os benefícios comumente conhecidos da corrida sobre o corpo humano, estudos científicos vêm demonstrando que o cérebro é também um dos grandes beneficiários deste esporte.

Inúmeros estudos foram realizados. Os mais diferentes testes executados. A constatação final quase sempre fora a mesma: a corrida é um excelente exercício para o cérebro. É o que definiram diversos testes aplicados por diferentes instituições e renomadas universidades do mundo, como Harvard e Oxford. A corrida é uma prática física que conecta corpo e mente de uma forma pouco vista em outros esportes. Isso intrigou e instigou cientistas a estudarem mais profundamente essa prática física e seus efeitos no cérebro humano.

Muitos abandonam ou mesmo nem iniciam a corrida por falta de tempo e excesso de trabalho, sendo estes os motivos mais comuns para justificar o sedentarismo. O que muitos não sabem é que a corrida irá proporcionar um aumento da sua capacidade cognitiva, condicionamento físico e melhora geral na saúde, tornando esta pessoa muito mais produtiva. Ou seja, ela será capaz de realizar muito mais tarefas em menos horas. O tempo usado no esporte na verdade não será um gasto, mas sim um investimento.

A corrida ajudando a espairecer a mente e desenvolver o cérebro

Correr com certa frequência ajuda a resgatar a memória, instiga a criatividade e organiza planos futuros. Ao menos é este o depoimento de inúmeros corredores que adotam a prática com alguma regularidade. Um depoimento que antes parecia não se embasar em dados científicos ou qualitativos. No entanto, um estudo americano ajudou a comprovar algo que já era sentido por quem adotava a corrida em sua rotina.

Uma análise realizada por neurocientistas especializados em pesquisas que envolvem atividades físicas comprovou que o sentimento dos corredores não era mera impressão. A publicação no periódico “Frontiers in Human Neuroscience” relacionou a corrida de longas distâncias à melhoria da capacidade cerebral. Segundo o trabalho publicado em um dos maiores periódicos de estudos neurocientíficos, pessoas que adotam a corrida como parte da rotina apresentam conexões cerebrais diferentes de pessoas completamente saudáveis, mas ainda assim sedentárias.

Os estudos apresentados sugeriram que as partes dos cérebros que apresentavam conexões diferenciadas eram as regiões que compreendiam a cognição sofisticada. A área em questão é responsável pela facilitação da memória de trabalho, potencialização da atenção, aumento da capacidade multitarefa, processamento de informações sensoriais e maior agilidade na tomada de decisões.

Os neurocientistas da Universidade do Arizona (que conduziram a pesquisa) constataram que os resultados apresentados são muito influentes no que relaciona a prática da corrida à maior interação de partes do cérebro dedicadas ao foco mental e à cognição. Outros esportes já haviam sido testados para avaliar a melhoria nos aspectos cognitivos do seres humanos, como o badminton e a ginástica. No entanto, a corrida jamais havia sido testada. Os resultados foram surpreendentes.

O estudo da Universidade do Arizona revela maior nível de conexões funcionais no cérebro em grupo de corredores

Para comprovar os resultados, um teste avaliando 11 homens corredores fora realizado. A justificativa dos pesquisadores se baseou no fato de que os efeitos do ciclo menstrual das mulheres no cérebro poderia ser um fator que afetasse os resultados. Assim, com 22 voluntários, sendo metade composta por corredores rotineiros e a outra metade um grupo de controle, avaliou-se as atividades cerebrais de ambos os grupos.

Para realização da mensuração de resultados, os voluntários foram submetidos à ressonância magnética com o intuito de medir os níveis de atividades cerebrais de cada um. A descoberta foi clara e um tanto surpreendente, encontrando-se através da ressonância magnética um maior nível de conexões funcionais – conexões entre partes distintas do cérebro – no grupo de corredores do que quando comparado ao grupo de controle (que envolviam homens saudáveis, no entanto sedentários).

A corrida, ao final das contas, não é uma atividade tão simples de ser praticada como se sugeria. O fato de apenas precisar sair do lugar por meio de uma arrancada, e a consequente condução do trajeto dão uma sintonia de suposta comodidade a um exercício que, presumivelmente, não exigia maiores habilidades para a prática, como outros esportes, por exemplo.

Uma suposição que caiu por completo com a elaboração do estudo pela Universidade do Arizona. Segundo os pesquisadores, a corrida aparentemente deixa de ser uma atividade física básica – como anteriormente se sugeria. A corrida exige habilidades complexas de navegação durante o trajeto, uma capacidade grande de planejamento do mesmo e monitoramento das atividades mais simples, como a respiração, por exemplo.

Os estudiosos da Universidade do Arizona salientaram ao fim de seu estudo que outros fatores poderiam estar influenciando na capacidade cerebral dos corredores testados, que não somente a corrida. No entanto, os padrões apresentados sugerem que novos estudos possam ser realizados para avaliar com mais precisão como as atividades cerebrais estariam relacionadas à prática da corrida.

Sob este aspecto, novos estudos passaram a ser realizados e agrupados, como a pesquisa que relaciona a criação de novos neurônios à prática rotineira de corrida de longas distâncias.

A corrida previne doenças

Marina Vasconcellos, psicóloga e professora colaboradora do curso de psicologia médica da Universidade de São Paulo, em entrevista ao Guia Tênis, revela que a atividade física já é usada como prescrição médica:

Sempre recomendamos a prática regular de exercícios físicos para qualquer pessoa, e aquelas em depressão ou ansiosas eu diria que faz parte da recomendação médica!
Segundo a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, que estuda há anos o funcionamento do cérebro, existem cinco motivos principais para realizarmos exercícios físicos regularmente para que nosso cérebro funcione melhor. Ao praticá-los, nosso sistema de recompensa cerebral é ativado, nos fazendo sentir prazer.

  1. O risco de sofrermos AVCs grandes ou pequenos é bem menor, já que o exercício melhora a atividade cardiovascular, beneficiando a irrigação sanguínea do cérebro
  2. O exercício faz o cérebro produzir prolactina, um hormônio que tem ação calmante, e endorfina, que ajudam no aumento do prazer e reduzem a dor
  3. O exercício ajuda a descarregar tensões acumuladas. O corpo relaxa e o cérebro acalma
  4. O exercício aumenta a atividade do sistema parassimpático, responsável pela digestão, crescimento, proteção do coração e que age como freio contra o estresse a longo prazo
  5. O exercício físico promove o nascimento de neurônios novos no cérebro, em especial no hipocampo, que é responsável pela formação de novas memórias. Ou seja, melhora a memória.

Resumindo:

  • previne AVC
  • reduz a dor
  • acalma o corpo e o cérebro
  • diminui o estresse
  • melhora a memória
  • dá prazer!

Ainda acrescento o fato da corrida, em especial, proporcionar o convívio com outras pessoas e estar ao ar livre ou em contato com a natureza, no caso de correr no parque (muito melhor do que na esteira, fechado dentro de uma academia). E as provas de corrida são animadas, o clima é delicioso, são centenas ou milhares de pessoas com a energia boa, animados, pensando na saúde e no bem estar. A somatória de tudo isso ajuda a levantar o astral de qualquer um, estimulando o deprimido (pelos motivos relatados acima) e aliviando a tensão dos ansiosos (idem).
Portanto, a prática regular de exercícios físicos só traz benefícios à saúde.” – finaliza a psicóloga.

 

A explicação de neurocientistas ao relacionar criação de neurônios às corridas

É sempre perceptível que, após uma longa corrida, a mente esteja mais apta e capacitada a novas informações. Mas não só isso, como também uma reflexão mais precisa dos problemas diários e o encontro de soluções para algo que tanto insiste em incomodar. A corrida relaxa. E isso não é ouvido apenas de uma boca, mas sim de inúmeros corredores que costumam buscar a corrida para “libertar a mente”, aguçar o cérebro e potencializar a consciência.

Entretanto, tudo isso sempre passou por uma suposição. Sem embasamento científico, estas propriedades mentais positivas findavam apenas opinião de quem corria e sentia-se bem com a prática. O passado ficou para trás. No presente, aparentemente, a prova de que a corrida está completamente relacionada à melhoria da capacidade cerebral parece estar tomando os laboratórios de neurociência que estudam e se aprofundam no tema que relaciona neurônios, corrida e atividade cerebral.

Novos neurônios sendo criados por quem adota a corrida como atividade rotineira

Por anos aceitou-se a hipótese de que o ser humano nasce com uma quantidade permanente de neurônios. Além disso, a afirmação ainda condizia que, ao chegar à fase adulta, novos neurônios deixariam de surgir. Uma hipótese que até se tornou teoria, mas que provou-se como falsa. Pesquisas realizadas utilizando animais, por exemplo, constataram que novos neurônios são continuamente produzidos no cérebro, não importando a idade.

Mas muito além disso, um dos fatores que podem ser significantes para o surgimento de neurônios – e assim a potencialização da capacidade cerebral – é a realização de exercícios aeróbicos, sobretudo a corrida. Segundo levantamento realizado em pesquisa pela Academia Americana de Neuropsicologia Clínica, é possível estimular o crescimento de novos neurônios apenas através de uma corrida. A alta intensidade dedicada a uma corrida de 30 minutos, por exemplo, desencadeia o surgimento de novas células cerebrais.

Auxiliando nos aspectos de melhoria da capacidade neural, a corrida pode, ainda, estimular a recuperação de abatimentos ou sentimentos negativos mais rapidamente. Sendo fundamental como forma de superar qualquer tipo de adversidade.

Superando traumas e contornando emoções negativas

Emily Bernstein (PhD em ciência oncológica) e Richard McNally (Professor de Psicologia na Universidade de Harvard) conduziram um estudo que verificou como a corrida poderia ser um braço direito no tratamento de emoções negativas; como um mecanismo de superação de traumas ou da negatividade findada que possa se desenvolver.

Bernstein teve como motivação do estudo o fato de ser uma corredora rotineira, admitindo que nota o sentimento de positividade que invade seu corpo enquanto corre e também após o exercício. O estudo, dessa forma, serviu para que fosse descoberto o efeito causador do estímulo positivo gerado sobre as pessoas que praticam exercícios aeróbicos. Propondo analisar a forma que o corpo e a mente reagem após uma corrida, as emoções seriam, em princípio, analisadas como o fator principal do estudo. Os voluntários da pesquisa foram submetidos a alongamentos, enquanto o outro grupo foi estimulado a correr durante 30 minutos, e, após isso, todos assistiriam à cena que encerrava o filme ‘O Campeão’, de 1979.

Notou-se que os participantes que haviam corrido se recuperaram de maneira mais rápida da experiência emocional negativa em comparação com quem apenas havia se alongado. Dessa forma, uma ideia de que a corrida poderia corresponder aos aspectos positivos seria o ponto de partida para estudos futuros.

A corrida seria o melhor tipo de exercício para o cérebro?

Os mais diferentes exercícios agem de formas diversas no organismo. Mesmo que estejam englobados em exercícios aeróbicos ou anaeróbicos, a reação do organismo sempre será diferente em cada caso. Dessa forma, difere-se no que tange a parte física, mas também no que abrange as atividades neurológicas. Um estudo na Universidade de Jyvaskayla, na Finlândia, colocou à prova como a atividade mental é desenvolvida em larga escala, testando ratos em diversos exercícios aeróbicos.

Estudos realizados anteriormente ao da Universidade finlandesa já levantavam a hipótese de uma análise mais profunda acerca do surgimento de maior número de neurônios em testes comparativos de ratos que corriam e ratos sedentários. Em algumas pesquisas constatou-se que o número de novos neurônios quase triplicava de um grupo de amostra para o outro. Além disso, a região beneficiada casava justamente com o hipotálamo, responsável pela cognição e memória.

Já o estudo da Universidade de Jyvaskayla apostou em maior profundidade nas análises. Injetando uma substância que marcaria as regiões onde provocassem o surgimento de novas células, os pesquisadores estimularam os ratos aos mais diferentes tipos de exercícios, realizando comparações com um grupo de controle que permaneceria sedentário.

Alguns dos animais correram em rodas dentro de suas gaiolas, já outros foram submetidos a corridas moderadas em locais abertos, com distâncias variadas. Outro grupo ainda foi submetido a diversos outros treinos que envolviam resistência, treinos de velocidade e demais regimes de exercícios físicos. As rotinas de treinamentos perduraram por sete semanas até os primeiros resultados começarem a surgir. O surpreendente fica por conta dos animais que corriam enjaulados, assim como os que corriam soltos.

Os ratos estimulados, sobretudo, à corrida – seja enjaulado ou livre – apresentaram robustos resultados no que tangem os níveis de neurogênese. A comparação com o grupo de controle demonstrou que os animais expostos às atividades aeróbicas, que exigiam a corrida e intervalos de descanso controlados, promoviam uma excelente qualidade às funções cerebrais. Inúmeros novos neurônios surgiram no cérebro, e aliar o exercício ao descanso proporcionou uma qualidade à saúde física e mental dos ratos testados.

A Dr. Miriam Nokia (vinculada ao Departamento de Psicologia da Universidade de Jyvaskayla) explicitou o fato de que “ratos não são humanos”, em suas palavras, mas que os resultados apresentados são significativos para testes futuros que devem apresentar resultados positivos para a aliança de exercícios aeróbicos, assim como potencialização da capacidade cerebral humana, sobretudo no surgimento de maior número de neurônios, se comparado aos sedentários.

A corrida como o principal exercício para um cérebro saudável

Ao menos para o cérebro parece ser a melhor pedida. Por apresentar inúmeros benefícios sustentados por estudos quantitativos e qualitativos, a corrida e a melhora das atividades cerebrais se tornam quase como um laço que deve ser mais valorizado. Isso porque além da promoção de benefícios à saúde cardiorespiratória e muscular, a corrida ainda se sobressai no que tange a melhora nas atividades cerebrais. Sendo, literalmente, o exercício que vai dos pés à cabeça.

Estudos falam por si, abrangem uma metodologia própria, testes que podem ser de discórdia, mas com fatos que dificilmente podem ser rebatidos. A corrida proporciona um benefício sem igual ao corpo; agora também descobre-se seu importante fator na melhora da atividade cerebral. Sendo uma opção interessante, portanto, a corrida serve quase como uma medicina preventiva. Calçando os tênis para corrida, mapeando um trajeto e desbravando novos caminhos parece ser muito mais interessante que a dependência de remédios no futuro.

FONTES:

  • [1] http://www.karenpostal.com/exercise-think-better/ – Karen Postal, neuropsicóloga instrutora em Harvard, presidente da Academia Americana de Neuropsicologia Clínica.
  • [2] http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1113/JP271552/abstract
  • [3] http://www.nature.com/neuro/journal/v2/n3/full/nn0399_266.html
  • [4] http://journal.frontiersin.org/article/10.3389/fnhum.2016.00610/full
  • [5] https://well.blogs.nytimes.com/2016/02/17/which-type-of-exercise-is-best-for-the-brain/?_r=1
  • [6] http://www.nature.com/neuro/journal/v2/n3/full/nn0399_266.html
  • [7] https://academic.oup.com/biomedgerontology/article/58/2/M176/593589/Aerobic-Fitness-Reduces-Brain-Tissue-Loss-in-Aging
  • [8] http://www.health.harvard.edu/blog/regular-exercise-changes-brain-improve-memory-thinking-skills-201404097110
  • [9] http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/02699931.2016.1168284